Atualizado em
11/05/2013 00h25
Em recuperação, mendigo gato reencontra fotógrafa que mudou seu destino
Internado há sete meses, ele já pode receber a visita da família, que acompanha aliviada a evolução do tratamento.

Michelle Fernandes sonha ser cantora gospel. Rafael Nunes já foi modelo
fotográfico. Os dois não se conhecem, mas têm muitos pontos em comum.
Jovens, boa aparência, uma vida inteira pela frente. Quem poderia imaginar: Michelle e Rafael viraram mendigos.
“Minha casa é a rua. Infelizmente”, conta Michelle Fernandes.
“Passava frio, os pés gelados. Às vezes chovia, ventava” lembra Rafael Nunes.
Michelle vive nas ruas de Curitiba há seis anos. Rafael ficou nesta
situação um ano e cinco dias. Eles se juntaram a uma população de
anônimos que vagam pelas cidades sem destino.
“Eu tive dificuldade na família, de conviver com a família. Foi muito
difícil, né? Eu tinha um namorado e ele usava droga. E eu usei junto com
ele”, conta Michelle.
“Eu comecei a vender as minhas roupas e consumir drogas”, revela Rafael.
A equipe do Globo Repórter encontrou Rafael em uma clínica de
recuperação para dependentes de álcool e drogas em Araçoiaba da Serra, a
120 quilômetros de São Paulo.
Internado há sete meses, ele já pode receber a visita da família, que
acompanha aliviada a evolução do tratamento. Seu José, o pai dele, se
lembra das noites em claro quando o filho vivia nas ruas.
“Eu cheguei a mudar para um quarto sozinho. Para escutar televisão de
noite. E ficar sentado na cama, um pouco chorando, um pouco rezando”,
conta o aposentado José Nunes.
A mãe, a enfermeira Edite Nunes, montou uma rede de informantes pela
cidade na tentativa de localizar e levar o filho de volta para casa.
“Às vezes, alguém dizia: ‘eu vi o Rafael em Campo Raso’. Aí, eu pegava o
ônibus e ia para Curitiba. Chegava lá, eu rodava, rodava. Então, eu
saía para esquerda, com certeza ele ia para direita”, lembra dona Edite.
“Eu tinha medo dele aparecer em casa um dia fora de si, drogado e
machucar o pai e a mãe e machucar as crianças. Eu sempre tive medo. Ao
mesmo tempo, a gente quer resgatar e a gente tem medo”, desabafa a irmã
de Rafael, Rubiana Nunes.
Mas, em outubro de 2012, a vida de Rafael cruzou com a de Indy Zanardo.
A fotógrafa gaúcha visitava parentes em Curitiba. E, entre uma foto e
outra, apareceu Rafael, maltrapilho e delirante.
“Ela estava tirando foto do familiar dela e eu acho que eu passei no meio, ofuscando a câmera dela”, lembra Rafael.
“Ele falou assim ‘tira uma foto minha’. Ele falou ‘você vai pôr na rádio para eu ficar famoso’”, conta Indy.
“Brinquei com ela, balancei assim, gesticulei. E ela tirou a foto, né?”, diz Rafael.
“Eu tirei a foto e ele saiu correndo. Eu não tive tempo de conversar
com ele. Ou de olhar. Na verdade, eu nem vi ele. Eu fui ver mesmo depois
que eu entrei no ônibus, Olhei para minha câmera e vi a foto ali. Na
verdade, na hora em que eu olhei na foto, para mim, não era a mesma
pessoa que estava ali na minha frente. Que eu achei, assim, muito
bonito”, conta Indy.
De volta ao Rio Grande do Sul e impressionada com a beleza do mendigo,
Indy decidiu publicar a foto na internet. Foi um sucesso instantâneo nas
redes sociais: em poucas horas, milhares de acessos.
Quem seria aquele jovem? Um mendigo com pinta de modelo? Ou um modelo fazendo pose de mendigo?
Em poucas horas, a notícia do mendigo gato chegou à família de Rafael.
“Eu pensei: ‘meu deus, a minha família vai saber que eu tenho um filho
na rua’, porque ninguém sabia, a minha mãe tem 90 anos”, conta a mãe de
Rafael.
Mas, o que poderia ter sido uma notícia ruim, acabou apontando um novo
caminho para Rafael. A direção da clínica onde ele está internado soube
da história e ofereceu tratamento ao ex-modelo.
Sem nunca ter encontrado a família de Rafael, Indy acabou transformando a vida de todos.
“Se não fosse ela, nós estávamos com ele perdido. A gente sempre tinha
uma esperança, nós vamos continuar, mas ele estava além do fundo do
poço”, desabafa Edite.
Fonte/G1.com o por Jaime
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