segunda-feira, 29 de agosto de 2011

EMPREENDEDORISMO

As roupas que vestem o sertão
Juntos, os municípios de Rodolfo Fernandes, Taboleiro Grande e São Francisco do Oeste, no Alto Oeste potiguar, têm pouco mais de 10 mil habitantes, mas são responsáveis pela distribuição de mais de 200 mil peças de roupas para todo o Nordeste. As pequenas fábricas de roupas, na maioria lingerie, são oásis no meio do semiárido e responsáveis pela geração de dezenas de empregos em lugares onde a aposentadoria e o serviço público são as principais alternativas de renda.
A história desses empreendimentos surgiu no início da década de 90, entre os anos de 1991 e 1993, praticamente do mesmo jeito. O hábito de costurar em casa, herdado das mães, transformou-se em grande negócio ante a oportunidade que surgiu em cada uma das pequenas cidades e hoje em toda a região Nordeste.
O primeiro a aparecer no cenário oestano foi a confecção da família Porfírios. Márcia Alves Pereira costurava de encomenda em São Paulo (SP), na própria casa, quando resolveu voltar para São Francisco do Oeste. Trouxe três máquinas de costura e, com a ajuda das irmãs, iniciou uma produção. O marido Luzimar Porfírios, que na capital paulista trabalhava de garçom, passou a ser vendedor.
Em 1991, depois de conquistar a clientela da região e contar seis pessoas na produção, a empresa foi registrada. Luzimar assumiu o comando das negociações e, em pouco tempo, transformou a empresa da família numa das mais importantes fábricas de roupas do Oeste potiguar. Hoje, com 110 funcionários registrados e pelo menos outros 20 que prestam serviço por meio de uma facção têxtil, eles representam a maior fonte de renda privada na pequena cidade de menos de quatro mil habitantes.
Especializados na fabricação de camisas, shorts e roupas de dormir, todo dia mais de 1.000 peças são fabricadas e distribuídas em vários municípios do RN, Ceará, Paraíba e agora Bahia. Para Luzimar, gerar empregos é a sua maior realização. "Eu me sinto muito bem por poder gerar emprego para pessoas que, como eu, viviam da agricultura", disse.
Dona Márcia diz que talvez poderia ter conseguido montar uma fábrica de roupas em São Paulo, mas não com essa dimensão e importância. "Lá era muito mais difícil por conta da concorrência", completa.

O EMPREGO QUE DÁ CASAS
Recentemente, a empresa fez uma parceria com a Caixa Econômica Federal para construir casas para seus funcionários. Até agora, dez já ficaram prontas e começaram a ser financiadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida.


As costureiras que produziram demais
A história das fábricas de roupas das famílias Oliveira (em Taboleiro Grande) e Fernandes Monteiro (em Rodolfo Fernandes) é idêntica à dos Porfírios, fora a viagem para São Paulo. Dona Salete Oliveira e as irmãs, Elisandra e Elisama, começaram a costurar de encomenda por volta de 1996, quando despertaram o interesse de uma massa que passou a fazer encomendas muito acima de sua capacidade de produção.
O crescimento do projeto levou à necessidade de ampliação e envolvimento de toda a família. Em pouco tempo, as máquinas saíram da sala da casa para um prédio próprio, que hoje gera mais de 40 empregos. Especializada em roupas íntimas, produz mais de 65 mil peças por mês que são vendidas em todos os Estados do Nordeste. "Temos vendedores do Estado da Bahia ao Maranhão", explica Gleidson de Oliveira, filho de Salete e atual gerente da empresa.
Só do município de Taboleiro Grande saem, todo mês, pelo menos 100 mil peças de roupas íntimas de todos os tamanhos e preços (de R$ 2,00 a R$ 25,00). Isso porque, além da família Oliveira, outras duas fábricas menores atuam no ramo, gerando pelo menos mais 40 empregos.

FERNANDES OLIVEIRA
Em Rodolfo Fernandes, foi a costureira Maria Cirenia Fernandes Monteiro - falecida em 1999 - quem começou a fabricar roupas. Investindo também em roupas íntimas, ela e o marido Francisco Barbosa Monteiro, "Francisquinho", logo descobriram que o negócio daria certo.
Oferecendo produtos baratos, ganharam a atenção das sacoleiras, que se espalharam por todo o Oeste. A qualidade das peças fez o negócio crescer além do esperado e, em poucos anos, a produção caseira se industrializou. Hoje, sob o comando do filho Fagner Kadson, a fábrica produz 40 mil peças para toda a região nordestina.

APODI
Parentes de dona Salete Oliveira também abriram uma fábrica de roupas íntimas no município de Apodi. Segundo Gleidson, a história de lá é muito parecida com a deles. A reportagem do JORNAL DE FATO tentou um contato com a dona, Maria Alves, mas ela avisou que estava sem tempo de dar informações sobre o projeto.

EMPREGOS
A primeira experiência de emprego de Kaline Kely foi numa fábrica de roupas. Ela e todas as amigas estão empregadas na empresa da família Oliveira, em Taboleiro Grande. Com o salário, tornou-se independente financeiramente dos pais logo cedo. O dinheiro serviu para comprar móveis e aparelhos eletrodomésticos e é o que lhe dá roupas e diversão.
Kely tem um sonho incomum para jovens de sua idade: quer ser jogadora de futebol profissional. Mesmo aos 18 anos, as amigas dizem que tem potencial. Mas, se não der certo, já tem sua profissão e uma vaga garantida na fábrica de roupas.
Josimar de Oliveira já vive o seu sonho. O emprego na fábrica o tirou do trabalho duro na agricultura. Para Maria Luísa, que está no ramo há dois anos, foi uma oportunidade para livrá-la do ostracismo de cidade pequena.
Maria Olímpia faz dez anos que trabalha com a confecção de roupas. Foi desse ofício que criou a família e agora compra os mimos para dar de presente ao neto pequeno.
Capacitação muda estrutura produtiva de empresas
A capacitação e a melhoria tecnológica foram fatores essenciais para o sucesso desses projetos no interior do Estado. De acordo com Verônica Melo, gestora do projeto de confecções do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-RN), a instituição atende as indústrias de moda praia, feminina e infantil.
O trabalho é fazer o diagnóstico e identificação dos pontos que precisavam ser melhorados nas áreas de gestão, produto, processo produtivo e designer. "As fábricas do Oeste utilizaram-se das ações de inovação e tecnologia do processo produtivo do programa."
De acordo com Verônica, foram feitas adequação e melhoria no layout para que as empresas produzissem mais. "Foram dadas capacitações nas áreas de "costurabilidade", para que as costureiras trabalhassem mais rápido, de ações de planejamento e controle da produção", disse.
O projeto atende hoje mais de 60 empresas desse porte em todo o Estado. "O RN se destaca pelas grandes facções têxteis e surgimento das pequenas empresas que vêm se fortalecendo muito nos últimos anos", completa.
Ela informa que o Seridó é onde está o maior potencial. Além de Caicó com o polo de produção de bonés, Jardim de Piranhas se destaca devido às indústrias de tecelagem. Outro setor que tem crescido é o de facções têxteis, que fabricam peças para as grandes empresas de roupas, com pelo menos 80 empresas espalhadas por vários municípios, gerando pelo menos 2.400 empregos. "A confecção é uma atividade que emprega muito, daí a sua importância para geração de emprego", complementa Verônica Melo.
Fonte/Jornal d Fato - por Jaime

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